Padre António Vieira sempre se preocupou com os problemas sociais. Tinha o dom da eloquência enquanto orador, capaz de exortar audiências. A sua grande energia captava eficazmente a atenção dos ouvintes. Seduzia o auditório também por conta da utilização de figuras de estilo, do encadeamento de raciocínios e argumentos. O recurso a referências bíblicas conferia credibilidade à sua pregação.
António Vieira decide imitar Santo António, evocando uma lenda envolvente que diz que numa das suas pregações o santo dirige-se aos peixes, pois não estava a ser ouvido pelos homens. Padre Vieira não consegue ser ouvido pelos colonos do Maranhão, que exploravam os escravos, então volta-se igualmente para os peixes.
O sermão tem como objetivos espalhar a palavra Cristã, comover os ouvintes e apelar à mudança.
O conceito predicável é "Vós sois o sal da Terra", sendo o sal os pregadores e a Terra os ouvintes. Como a Terra não está salgada, ou é ela que não se deixa salgar ou é o sal que não salga.
Começa por elogiar os peixes no geral, "ouvem bem e não falam", e depois em particular, representando alegoricamente cada peixe uma qualidade humana.
Primeiro louva o peixe de Tobias, que possui o poder curativo. As palavras de Santo António curam a cegueira das almas tal como o seu fel cura a cegueira. O seu bom coração, que afastava demónios, também é comparado ao do Santo.
De seguida, elogia-se a rémora pela sua grande determinação e força, comparada à língua de Santo António.
Logo após, vem o torpedo, repleto de energia. É capaz de criar descargas elétricas que estremecem os braços dos pescadores. Tal energia é comum à do Santo que Padre Vieira admira, que faz tremer os ouvintes.
Por fim, fala-se do quatro-olhos, um peixe atento, com dois olhos virados para o céu e outros dois para baixo. Este peixe ensina aos homens a olhar para o céu e praticarem o bem, pois o Inferno aguarda-os debaixo da Terra.
Quando terminados os elogios, o pregador repreende. Afirma que os peixes são ignorantes, vaidosos, cegos e, pior, comem-se uns aos outros, sempre os grandes a alimentarem-se dos mais pequenos.
Concretamente, o primeiro peixe reprimido é o roncador, que é arrogante, devido ao seu ronco.
Seguem-se os pegadores. Estes representam a dependência e o oportunismo. É a alegoria do parasitismo, característico das altas classes e dos políticos, que vivem da troca de favores.
Os voadores são a terceira espécie advertida. São caracterizados pela sua presunção e ambição, visto não se contentam com o mar e tentam voar como as aves.
O último peixe é o polvo, hipócrita e traidor. Este aparenta ser o que não é ("com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge, com aqueles raios estendidos parece uma estrela, com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão").
No fim, retoma os argumentos utilizados para apelar as peixes que se respeitem e venerem Deus.