quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Cena II, do Ato I, de Frei Luís de Sousa

  Ato I - Cena II (Conversa entre Telmo e Madalena)

 O primeiro momento é caracterizado pelas profecias e agouros de Telmo, pela influência de Telmo sobre Maria, pela evolução dos sentimentos de Telmo relativamente a Maria, pelos pedidos de Madalena a Telmo e pela acusação de Telmo a Madalena.

 Telmo assume que, inicialmente, e como consequência do seu desagrado face ao casamento de Madalena com Manuel de Sousa Coutinho, não «podia ver» Maria. Esta foi, com o tempo e como resultado do seu carácter afável, ganhando a sua afeição, tornando-o um modelo e levando-o mesmo a sugerir que o seu amor pela jovem seria superior ao do próprio pai. Telmo antecipa ainda um futuro revelador da verdadeira dimensão da sua afeição por Maria.

 Na segunda parte, verifica-se uma mudança de atitude de Madalena, uma síntese do passado comum de Madalena e Telmo Pais, a justificação de Telmo para acreditar que D. João não morreu, presságios, a caracterização da relação de Telmo e Madalena e a decisão final de não voltarem a falar do assunto.

 Aquando da lembrança do passado comum de Madalena e Telmo, concretiza-se uma analepse.

 Remete-se ao casamento de Madalena com D. João de Portugal, ao desaparecimento de D. João na batalha de Alcácer Quibir, à assumição por parte de Telmo do papel paternal sobre Madalena, às tentativas fracassadas de encontrar D. João de Portugal, ao casamento de Madalena com Manuel de Sousa Coutinho e ao nascimento de Maria.

 O estado de espírito de Madalena vai sofrendo alterações ao longo desta conversa com Telmo:

  • "(com as lágrimas nos olhos)", quando fala de Maria;
  • "(quase ofendida)", quando Telmo parece duvidar da confiança, respeito e carinho que ela lhe devota;
  • "(sorrindo)" e "(rindo)", nomomento em que Telmo revela gostar mais de Maria do que os próprios pais;
  • "(assustada)", perante a armação agoirenta de Telmo;
  • "(... toma uma atitude grave e firme)",pretendendo retomar as rédeas da conversapara que ela não fuja para onde ela não quer. Num tom impositivo, lembra a natureza e alongevidade da sua relação e pede-lhe que não estimule a crença sebastianista em Maria;
  • "(aterrada)" e "(possuída de grande terror)", quando Telmo lhe lembra a carta de D. João, onde aquele arma que voltará vivo ou morto;
  • "(com afetação)", pois ela própria não acredita naquilo que está a dizer quando se refere aos membros da sua família como estando "seguros, em paz e felizes..."

 Depois de proferir "não sei latim como meu senhor..." Telmo reformula a frase para deixar claro que se refere a Manuel de Sousa Coutinho ("quero dizer como o Sr. Manuel de Sousa Coutinho"), a quem, por "ciúmes", e apesar de possuir nobres qualidades, não reconhece o valor do seu "amo", D. João de Portugal.

 Telmo acredita que seu amo não está morto por causa das palavras da carta que aquele escreveu a Madalena na madrugada da fatídica batalha.

 Segundo Telmo, Madalena nutria por D. João “respeito, devoção, lealdade”, mas não amor.

 Madalena lembra que a "dúvida" sobre a morte de D. Sebastião, possibilitando igual dúvida sobre a morte de D. João de Portugal, poderia "condenar a eterna desonra a mãe e a filha", tornando-se "fatal" para a família.

 Reconhecendo-se como responsável por tal hipótese, Telmo manifesta a sua "agitação" e mostra-se "aterrado".

 O "fantasma" referido é D. Sebastião e a "quimera" o sonho de que ele esteja vivo. Se isto viesse a ser verdade, poderia constituir uma desgraça para Madalena, pois D. João poderia também estar vivo.

 Decidem não voltar a falar nem do passado - assunto tão doloroso para ambos - nem do futuro.

 O primeiro aparte de Telmo ("Terá...") revela ao espetador/leitor as dúvidas da personagem em relação à morte de seu amo, D. João de Portugal, e reiteram a sua fé no seu regresso.

 O segundo anuncia, desde logo, a impossibilidade de salvar Maria, por muitos esforços que Telmo venha a fazer nesse sentido.

 As constantes interrupções das falas de Madalena, representadas pelas reticências, mostram as suas hesitações, os seus medos, o seu terror de falar do seu passado, como que temendo que, ao falar dele, ele possa voltar.

 A última dala de Madalena dá-nos informações acerca da situação política que se vivia em Portugal. Madalena está preocupada com a demora do marido. As razões dessa preocupação são a peste, ainda existente em Lisboa, e o ambiente social e político de agitação face à ocupação espanhola, em particular, considerando o "carácter inflexível" de Manuel de Sousa Coutinho.

Caracterização das personagens

 D. Madalena:

  • Mulher de condição nobre;
  • Casou a primeira vez com D. João de Portugal, quando ainda era "uma criança";
  • Hoje tem uma filha com Manuel deSousa Coutinho;
  • É uma personagem dada a superstições e agoiros, vivendo sempre com medo de que algo de mau possa acontecer e, por isso, não é capaz de usufruir da felicidade do presente. Vive angustiada relativamente ao passado.

Telmo:

  • Foi aio de D. João de Portugal e acredita que ele está vivo e há de regressar;
  • É, agora, aio de Maria, que, de alguma forma, veio tomar o lugar do seu antigo amo, e tem uma grande influência sobre ela.
  • Tem, em relação a Madalena, algum ressentimento, pois sabe que ela nunca amou verdadeiramente D. João de Portugal, chegando mesmo a sentir, em relação à mesma, os ciúmes que seu antigo amo não teve.

Manuel de Sousa é um fidalgo com quem casou depois de D. João ter desaparecido na batalha de Alcácer Quibir e de o ter procurado, em vão, durante sete anos.

Maria, uma jovem frágil e doente que é fonte de grandes preocupações.

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