O Inferno, de Bernardo Santareno, pseudónimo de António Marinho Rosado, um ilustre dramaturgo português.
Nascido em Santarém, em 1920, o autor foi um opositor do regime salazarista. Licenciou-se em medicina na Universidade de Coimbra e especializou-se em psiquiatria.
Começou por escrever poesia, mas foi com os textos teatrais que se tornou conhecido.
Viria a falecer em 1980, deixando 19 obras publicadas, em que se destaca "O Judeu", o seu magnum opus.
Trago-vos o Inferno, numa edição compilada com outras três obras, já que foi bastante difícil de encontrar o livro. Percorri algumas livrarias e nenhuma o tinha disponível, mas lá encontrei este no espólio da Biblioteca Municipal.
A capa carece de elementos, o que é normal para a época.
O Inferno é uma peça baseada numa história verídica dum casal de assassínos inglês, que abusava sexualmente crianças antes das matar.
Na obra, os dois criminosos surgem com os nomes Eurídice e Orfeu, e a ação passa-se na íntegra num tribunal britânico nos anos sessenta, aquando do julgamento destes, acusados de sadomizar e assassinar três menores, sendo estes uma judia de 10 anos, um homossexual de 17 e um negro de 12.
Ao longo da peça, acompanhamos a tentativa de defesa dos réus destes crimes hediondos, enquanto somos penetrados pela sua frieza e iniquidade.
Santareno aborda questões que são transversais à sua produção literária, como a essência do mal e a relação entre o crime e a sociedade.
Sendo publicada em 1967, consagra-se como uma das obras mais controversa para a época, abordando temas como racismo, religião, homossexualidade e pedofilia, duma forma crua e violenta.
Escolhi o livro devido à sua distinção entre as outras obras. Foge à norma. A sua estrutura interessou-me. Fiquei curioso para ler como o dramaturgo idealizou uma peça inteira sem mudar o cenário. Supreendeu-me. Recomendo a leitura